Querido diário,

Lembro-me de como minha mãe conheceu a tia Joana pela internet, já faz uns três ou quatro anos. Elas tiveram uma discussão em um post sobre uma receita de sopa.

Minha mãe insistia que a cebola e a cenoura deveriam ser refogadas juntas, enquanto a tia Joana defendia que era melhor começar pela cenoura e só depois adicionar a cebola. Aquela foi a primeira briga da minha mãe no vasto mundo online. Não sei como elas conseguiram se reconciliar com suas diferentes maneiras de refogar, mas a conversa continuou e durou bastante tempo.

A tia Joana tornou-se quase uma membro da nossa família virtual: sempre atualizada sobre a nossa vida, sempre pronta a dar conselhos.

Ela até enviava presentes para minha mãe nas datas comemorativas: um cobertor quentinho, geleia de cranberry e um conjunto de chaves de fenda (naquela época, minha mãe tinha reclamado que não tinha nem uma chave de fenda em casa). Minhas retribuições também aconteciam: meias de lã, um cinto de pelagem de cachorro e potes de cogumelos em conserva.

No início de dezembro, tia Joana comemoraria seu sessenta aniversário. Minha mãe recebeu um convite e dinheiro para a passagem.

— De jeito nenhum! Para onde eu, velha, iria me envergonhar? — ela andava pela casa de um lado para o outro, dividida entre o desejo de ir e a vontade de ficar em casa.

Decidi que era hora de tomar as rédeas da situação: comprei um novo casaco de inverno, e uma amiga da faculdade, que trocou a cirurgia pela profissão de cabeleireira, arrumou o cabelo da minha mãe. Além disso, compramos um presente: brincos com pedras grandes.

Para que minha mãe não tivesse a tentação de mudar de ideia, pessoalmente a levei à estação e a coloquei no trem. Quando o trem partiu, respirei aliviada: que ela se divirta. Nos últimos dez anos, desde que meu pai faleceu, minha mãe tem se apagado cada vez mais. E quando me casei e fui morar com meu esposo, ela desanimou ainda mais.

O telefone tocou e era minha mãe, avisando que já tinha chegado:
— Um homem me recebeu, parece ser o marido da Joana. Estranho, ela não disse que era casada. Mas tudo bem, vou investigar. Não sintam minha falta! Logo estarei de volta!

Mas minha mãe não voltou: tia Joana era na verdade um tal de Eugênio de sessenta anos. Com um sobrenome invariable, a confusão sobre o gênero ficou no ar. O tio Eugênio se interessou pela foto da minha mãe, mas hesitou em confessar sua verdadeira identidade. Assim, continuou a se comunicar, sempre perguntando sobre a vida da minha mãe e enviando aqueles presentes.

Eles vieram para a nossa cidade em janeiro para resolver questões sobre o aluguel do apartamento da minha mãe. E nos ouvidos dela, brilhavam os brincos que havíamos comprado como presente para a “tia Joana”.

— Você vai à festa de casamento, não? — minha mãe perguntou, ruborizada.
— Com certeza, — prometi, sem acreditar no que via: minha mãe sorria constantemente, parecendo ter perdido pelo menos quinze anos de idade.
Tio Eugênio agradou tanto a mim quanto ao meu marido. Nossa filha ficou encantada com seu novo avô. Mas o mais importante é que minha mãe floresceu ao lado dele.

Eles se casaram, de forma simples. O tio Eugênio não tinha família: ficou viúvo em 2006 e não teve filhos. Viveu sozinho até então.

Estou tão feliz que esses dois solidões se encontraram. Que eles sejam felizes. Eles merecem isso!


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