Hoje decidi registar um episódio curioso da vida da minha mãe, que começou há uns anos atrás quando ela conheceu a tia Teresa numa rede social. O que originou a amizade delas foi uma discussão acesa sobre como preparar uma sopa.
Minha mãe defendia que a cebola e a cenoura deveriam ser refogadas juntas desde o começo, enquanto a tia Teresa acreditava que primeiro deveria ser a cenoura e, apenas cinco minutos depois, a cebola. Aquela foi a primeira vez que minha mãe se envolveu em uma disputa online. Não sei como conseguiram superar essa diferença na forma de cozinhar, mas o que se seguiu foi uma troca de mensagens que durou bastante tempo.
A tia Teresa tornou-se virtualmente parte da nossa família; estava sempre atenta à nossa vida e oferecia conselhos valiosos. Para nossas festas, ela mandava presentes, como um cobertor quentinho, doce de frutos do bosque e até mesmo um conjunto de chaves de fenda, depois que minha mãe comentou que não tinha nenhuma em casa. Claro que os presentes dela eram retribuídos com meias de lã, cinto de lã de cachorro e potes de cogumelos em conserva.
No início de dezembro, a tia Teresa completaria sessenta anos de vida. Minha mãe recebeu um convite e um dinheiro para a passagem.
— Eu não vou! Para onde vou? Para me envergonhar? — minha mãe andava pela casa angustiada, dividida entre a vontade de ir e o desejo de ficar em casa.
Tomando as rédeas da situação, comprei um novo casaco de inverno e uma amiga do meu tempo de faculdade, que trocou a cirurgia pela carreira de cabeleireira, deu um trato no cabelo da minha mãe. Ainda fizemos questão de comprar um presente: um par de brincos com pedras grandes.
Para que minha mãe não tivesse a tentação de mudar de ideia, levei-a pessoalmente até a estação e coloquei-a no trem. Assim que o trem partiu, respirei aliviada: ela precisava descontrair. Há dez anos, desde que meu pai faleceu, minha mãe vinha se apagando. E quando casei e fui viver com meu marido, ela pareceu desmoronar.
Recebi uma ligação dela quando chegou ao destino:
— Um homem me encontrou, provavelmente o marido da Teresa. Estranho, ela não mencionou que era casada. Mas tudo bem, vou descobrir. Não se preocupem! Voltarei em breve!
Só que minha mãe não voltou. A tia Teresa era, na verdade, um homem chamado Eugénio. Com um nome que não se flexionava, o gênero do usuário ficou confuso. Ele ficou interessado na foto da minha mãe e hesitou em revelar sua verdadeira identidade. Assim, mantinha a correspondência, sempre se informando sobre a vida dela e enviando aqueles incríveis presentes.
Eles vieram à nossa cidade em janeiro para tratar da locação do apartamento da minha mãe. E nos ouvidos dela, estavam os brincos que compramos como presente para “tia Teresa”.
— Vocês vão à minha boda? — minha mãe perguntou, corando.
— Iremos, — prometi, sem acreditar no que via: minha mãe estava sempre sorrindo, parecendo uns quinze anos mais jovem.
O tio Eugénio acabou conquistando também a mim e ao meu marido. E nossa filha ficou radiante com seu novo avô. O mais importante é que minha mãe floresceu ao lado dele.
Eles se casaram, de forma discreta. O tio Eugénio não tinha família; era viúvo desde 2006 e não tinha filhos. Vivia sozinho antes de encontrar minha mãe. Estou incrivelmente feliz que essas duas solidões se encontraram. Que eles sejam felizes, pois merecem!
Neste dia, aprendi que a vida pode nos surpreender de formas inesperadas e que o amor pode surgir nas situações mais improváveis.
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