– Tiago, não entendo o que você quer – disse Catarina, suspirando.
– Nada demais – respondeu Tiago. – Só quero ficar um tempo sozinho, descansar. Vá para a nossa casa de campo, relaxe, perca alguns quilos. Você está um pouco acima do peso.
Ele lançou um olhar crítico sobre o corpo da esposa. Catarina sabia que havia engordado devido ao tratamento, mas não discutiu.
– Onde fica essa casa de campo? – questionou ela.
– Numa região muito bonita – Tiago sorriu. – Tenho certeza de que você vai gostar.
Catarina decidiu não contestar. Também queria descansar. “Estamos apenas cansados um do outro”, pensou. “Deixe-o sentir minha falta. Eu não voltarei até que ele me chame”.
Ela começou a arrumar suas coisas.
– Você não está chateada, está? – perguntou Tiago. – É por pouco tempo, só para relaxar.
– Não, está tudo bem – Catarina forçou um sorriso.
– Então, vou indo – Tiago deu um beijo na bochecha dela e saiu.
Catarina suspirou pesadamente. Os beijos deles há muito haviam perdido a familiaridade calorosa.
A viagem levou muito mais tempo do que o esperado. Catarina se perdeu duas vezes – o GPS falhou e não havia sinal de celular. Finalmente, apareceu uma placa indicando o nome da aldeia. O lugar era isolado, as casas, embora de madeira, eram bem cuidadas, com entalhes decorativos.
“Claramente não há conforto moderno aqui”, pensou Catarina.
Ela não estava errada. A casa era uma cabana em ruínas. Se não fosse o carro e o celular, ela se sentiria como se estivesse em outra época. Catarina pegou o celular. “Vou ligar para ele agora”, decidiu, mas o sinal continuava a ser ruim.
O sol estava se pondo e Catarina estava cansada. Se não entrasse na casa, teria que passar a noite no carro.
Não queria voltar para a cidade, e também não queria dar a Tiago a oportunidade de dizer que ela não estava lidando bem com a situação.
Catarina saiu do carro. Seu casaco vermelho escuro parecia deslocado no meio da paisagem rural. Ela sorriu para si mesma.
– Muito bem, Catarina, não vamos desmoronar – murmurou ela em voz alta.
Na manhã seguinte, o canto estridente de um galo a acordou enquanto ela estava deitada no carro.
– Que barulho é esse? – reclamou Catarina, abrindo a janela.
O galo a olhou com um olho e voltou a gritar.
– Por que você está gritando tanto? – questionou Catarina, mas então viu uma vassoura passar pela janela e o galo se silenciou.
Um homem idoso apareceu na porta.
– Bom dia! – cumprimentou ele.
Catarina o observou com surpresa. Personagens como aquele pareciam ter desaparecido – era como se tivesse saído de um conto.
– Não fique bravo com o nosso galo – disse o homem idoso. – Ele é bom, só grita como se o estivessem matando.
Catarina riu, o sono se dissipando instantaneamente. O homem também sorriu.
– Você vai ficar aqui muito tempo ou só de visita?
– Estou de férias, pelo tempo que conseguir suportar, – respondeu Catarina.
– Venha tomar café conosco, querida. Você vai conhecer a minha esposa. Ela faz tortas… Só que não temos quem comer. Os netos vêm uma vez por ano, os filhos também…
Catarina não hesitou. Era importante conhecer os vizinhos.
A esposa do senhor Ivo era uma verdadeira avó de conto de fadas – com avental, lenço na cabeça, sorriso sem dentes e rugas simpáticas. A casa era limpa e aconchegante.
– Que lugar maravilhoso! – exclamou Catarina. – Por que seus filhos vêm tão raramente?
Dona Maria acenou com a mão.
– Pedimos a eles para não virem. As estradas são péssimas. Após a chuva, não conseguimos sair por uma semana. Antes havia uma ponte, embora antiga. Mas ela desabou há cinco anos. Vivemos como eremitas. Uma vez por semana, o Ivo vai ao mercado. O barco não dá conta. Ele é forte, mas está envelhecendo…
– Que tortas divinas! – elogiou Catarina. – Ninguém se importa com vocês? Alguém precisa cuidar disso.
– E quem somos nós? Apenas cinquenta pessoas. Antes éramos mil, mas agora foram embora.
Catarina refletiu.
– Estranho. E a prefeitura?
– Fica do outro lado da ponte. A volta dá 60 quilômetros. Você acha que não tentamos? A resposta é a mesma: não há dinheiro.
Catarina percebeu que tinha encontrado uma ocupação para as suas férias.
– Conte-me como encontrar a prefeitura. Ou você vem comigo? Não há previsão de chuva.
Os idosos trocaram olhares.
– Você está falando sério? Veio para descansar.
– Estou falando muito sério. O descanso pode ser diferente. E se eu voltar aqui e ainda tiver chuva? Também preciso tentar ajudar.
Os idosos sorriram calorosamente.
Na prefeitura, disseram a ela:
– Até quando você vai nos incomodar? Vocês nos fazem parecer vilões. Olhe para as estradas da cidade! Quem, na sua opinião, vai dar dinheiro para uma ponte em uma aldeia com meia centena de habitantes? Procurem um patrocinador. Por exemplo, o Sanches. Já ouviu falar dele?
Catarina acenou. Claro que ouvira – Sanches era o dono da empresa onde seu marido trabalhava. Ele era natural daquela região, mas seus pais tinham se mudado para a cidade quando ele tinha cerca de dez anos.
Após ponderar a noite toda, Catarina decidiu. Conhecia o número de Sanches – o marido várias vezes havia ligado de seu celular. Resolveu não mencionar que Tiago era seu esposo e telefonou como uma pessoa comum.
Na primeira tentativa, não conseguiu falar. Na segunda, Sanches a ouviu, ficou em silêncio e depois começou a rir.
– Sabe, já havia esquecido que nasci lá. Como está agora?
Catarina ficou animada.
– Muito bonito, tranquilo, as pessoas são maravilhosas. Vou mandar fotos e vídeos. E, senhor Sanches, já fui a todos os lugares – ninguém quer ajudar os idosos. Só você pode fazer algo.
– Vou pensar. Mande fotos, quero lembrar como era.
Catarina passou os dois dias seguintes filmando e tirando fotos para Sanches. As mensagens foram lidas, mas não houve resposta. Quando já estava prestes a desistir, Sanches telefonou:
– Catarina, você poderia vir ao escritório na Rua da Liberdade, amanhã por volta das três? E traga um esboço do projeto.
– Claro, obrigada, senhor Sanches!
– Sabe, é como um mergulho na infância. A vida é tão apressada – não há tempo para parar e sonhar.
– Eu entendo. Mas você deveria vir pessoalmente. Estarei lá amanhã.
Assim que desligou, Catarina percebeu: esse era o escritório onde trabalhava seu marido. Sorriu: seria uma surpresa divertida.
Chegou cedo, faltava uma hora para a reunião. Estacionou o carro e foi em direção ao escritório do marido. O secretário não estava no local. Entrou e ouviu vozes da sala de descanso, e foi até lá. Encontrou Tiago com sua secreta.
Ao vê-la, eles ficaram claramente desconcertados. Catarina parou na porta, enquanto Tiago se levantou rapidamente, tentando vestir as calças.
– Catarina, o que você está fazendo aqui?
Catarina saiu correndo do escritório, no corredor cruzou com Sanches, passou as folhas para ele e, chorando, correu para a saída. Não se lembrava como chegou à aldeia. Jogou-se na cama e começou a chorar.
Na manhã seguinte, um batida na porta a acordou. Na entrada estava Sanches acompanhado de um grupo de pessoas.
– Bom dia, Catarina. Vi que ontem você não estava pronta para conversar, então vim pessoalmente. Você pode servir um chá?
– Claro, entrem.
Sanches não mencionou nada sobre o dia anterior. Enquanto tomavam chá, quase todos os moradores da aldeia se reuniram na casa. Sanches olhou pela janela.
– Uau, uma delegação! Catarina, não é o senhor Ivo?
Catarina sorriu: – É ele mesmo.
– Trinta anos atrás ele já era avô, e sua esposa nos servia tortas.
O homem olhou preocupado para Catarina, que rapidamente respondeu: – Dona Maria está viva e saudável, e fazendo suas famosas tortas.
O dia passou em cuidados. As pessoas de Sanches estavam medindo, anotando e contabilizando.
– Catarina, posso fazer uma pergunta? – dirigiu-se Sanches. – Sobre o seu marido… Você vai perdoá-lo?
Catarina ponderou um pouco e então sorriu: – Não. Sabe, sou até grata a ele pelo que aconteceu… Por quê?
Sanches ficou em silêncio. Catarina se levantou, olhou ao redor da casa: – Se a ponte for construída, poderíamos fazer deste lugar algo incrível! Renovar as casas, criar áreas de descanso. A natureza é intocada, genuína. Mas não temos quem faça isso. E se você não quiser voltar para a cidade…
Sanches a contemplava. Uma mulher especial, decidida, inteligente. Ele não havia notado antes, mas agora a via em toda a sua glória.
– Catarina, posso voltar aqui mais vezes?
Ela olhou para ele com atenção: – Venha, ficarei feliz.
A construção da ponte progrediu rapidamente. Os moradores agradeciam a Catarina, e os jovens começaram a voltar. Sanches tornou-se um visitante frequente.
Tiago tentou ligar algumas vezes, mas Catarina ignorou as ligações e, em seguida, bloqueou o número.
Certa manhã, uma batida na porta a acordou. A sonolenta Catarina abriu a porta, temendo o pior, mas na entrada estava Tiago.
– Oi, Catarina. Venho buscar você. Já chega de birra. Desculpe, – disse ele.
Catarina riu: – “Desculpe”? É só isso?
– Ah, vem, não seja assim… Arrume-se, vamos para casa. Você não vai me expulsar, vai? Além disso, a casa não é sua, não se esqueceu?
– Agora vou te expulsar sim! – exclamou Catarina.
A porta rangeu e, da sala, saiu Sanches em roupas casuais: – Esta casa foi comprada com os recursos da minha empresa. Ou você, Tiago, acha que estou brincando? Existem auditorias no escritório e você terá que responder a muitas perguntas. E a Catarina não deve se preocupar – isso não é bom para ela agora…
Os olhos de Tiago se arregalaram. Sanches abraçou Catarina: – Ela é minha noiva. Por favor, saia da casa. Os documentos de divórcio já foram apresentados, aguarde a notificação.
O casamento foi realizado na aldeia. Sanches confessou que havia redescoberto seu amor por aquele lugar. A ponte foi construída, a estrada foi reformada, e uma loja foi aberta. As pessoas começaram a comprar casas para veranear. Catarina e Sanches também decidiram reformar a casa – para ter um lugar onde vir quando tiverem filhos.
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