– Rui, não entendo o que você deseja, – disse Catarina.
– Ah, nada demais, – respondeu Rui. – Só quero ficar um tempo sozinho, descansar. Vá até a nossa casa de campo, relaxe, perca alguns quilos. Você anda tão desleixada.
Ele lançou um olhar crítico para o corpo da esposa. Catarina sabia que havia ganhado peso por conta do tratamento, mas não contestou.
– Onde fica essa casa? – perguntou ela.
– Em um lugar bem bonito, – respondeu Rui com um sorriso. – Tenho certeza de que você vai gostar.
Catarina decidiu não discutir. Ela também queria um pouco de paz. “Talvez estejamos apenas cansados um do outro,” pensou. “Deixa ele sentir minha falta. Não volto até que ele venha me chamar.”
Começou a arrumar suas coisas.
– Você não ficou ofendido? – perguntou Rui. – Não é para ser por muito tempo, é só para descansar.
– Não, está tudo bem, – respondeu Catarina, esboçando um sorriso.
– Então vou indo, – Rui a beijou no rosto e saiu.
Catarina suspirou. Seus beijos há muito haviam perdido a antiga paixão.
A viagem demorou bem mais do que o esperado. Catarina se perdeu duas vezes – o GPS falhou e ela estava sem sinal de celular. Finalmente, avistou uma placa com o nome da vila. O lugar era isolado, as casas, feitas de madeira, eram simples, mas bem cuidadas, com janelas ornamentadas.
“Com certeza, aqui não há conforto moderno,” pensou Catarina.
Ela não estava enganada. A casa era uma cabana velha e meio caída. Sem carro e sem telefone, teria a sensação de estar no passado. Catarina pegou o celular.
“Vou ligar para ele agora,” decidiu, mas a conexão ainda não funcionava.
O sol estava se pondo, e Catarina estava cansada. Se não entrasse na casa, teria que passar a noite no carro.
Não queria voltar para a cidade, e também não queria dar a Rui a satisfação de pensar que não era capaz de se cuidar.
Catarina saiu do carro. Sua jaqueta vermelha brilhante parecia fora de lugar no cenário campestre. Ela sorriu para si mesma.
– Bem, Catarina, não vamos nos perder, – murmurou em voz alta.
Pela manhã, foi acordada pelo canto estridente de um galo, próximo à janela do carro, onde havia adormecido.
– Que barulho é esse? – resmungou Catarina, enquanto abaixava o vidro.
O galo a olhou com um olho e cantou novamente.
– Mas o que você está gritando? – indignou-se Catarina, mas logo viu uma vassoura passando pela janela, e o galo silenciou.
Um homem idoso apareceu na porta.
– Olá! – cumprimentou-o.
Catarina olhou para ele com surpresa. Aquela figura parecia ter saído de uma história.
– Não se preocupe com nosso galo, – disse o velho. – Ele é bom, só grita como se estivessem matando ele.
Catarina riu, e o sono se desvaneceu instantaneamente. O velho também sorriu.
– Você vai ficar muito tempo ou é só uma visita?
– Vim descansar, o tempo que eu aguentar, – respondeu Catarina.
– Venha, querida, entre. Vamos tomar café da manhã. Você vai conhecer a minha esposa. Ela faz uns quitutes… Mas está sem ninguém para comer. Os netos vêm uma vez por ano, os filhos também…
Catarina aceitou. Era interessante conhecer os vizinhos.
A esposa de Pedro foi uma verdadeira avó de contos de fadas, com avental, lenço na cabeça, um sorriso sem dentes e rugas bondosas. A casa era limpa e acolhedora.
– Que lugar maravilhoso vocês têm! – exclamou Catarina. – Por que seus filhos não vêm mais frequentemente?
Ana sorriu e acenou com a mão.
– Pedimos para que não venham. As estradas são ruins. Depois de uma chuva, ficamos uma semana sem conseguir sair. Havia uma ponte, já velha, que desabou há uns cinco anos. Vivemos como eremitas. Só uma vez na semana o Pedro vai ao mercado. O barco não suporta. O Pedro é forte, mas a idade…
– Que tortas deliciosas! – elogiou Catarina. – Não é possível que não haja ninguém cuidando disso. Alguém precisa fazer algo.
– E quem se importa com a gente? Só cinquenta habitantes. Antigamente éramos mil. Agora todo mundo foi embora.
Catarina refletiu.
– Estranho. E onde está a administração municipal?
– Do outro lado da ponte. Se você quiser dar a volta, são 60 quilômetros. Você acha que não tentamos? A resposta é sempre a mesma: não há dinheiro.
Catarina percebeu que havia encontrado um trabalho para fazer durante seu descanso.
– Pode me dizer como chegar até a administração? Ou você poderia ir comigo? Não parece que vai chover.
Os idosos trocaram olhares.
– Você está realmente falando sério? Veio aqui para descansar.
– Estou falando muito a sério. O descanso pode ter muitas formas. E se eu voltar e houver chuva? Vou tentar ajudar.
Os idosos lhe lançaram sorrisos calorosos.
Na administração municipal, disseram a ela:
– Até quando vamos ser importunados? Vocês nos transformam em vilões. Veja como estão as estradas na cidade! Quem, na sua opinião, vai dar dinheiro para construir uma ponte em uma vila com apenas cinquenta pessoas? Procurem um patrocinador. Conhece o Sokolovski?
Catarina acenou, pois conhecia sim – aquele Sokolovski era o dono da empresa onde seu marido trabalhava. Ele era da região, mas seus pais se mudaram para a cidade quando ele tinha uns dez anos.
Depois de uma longa noite pensando, Catarina decidiu agir. Ela sabia o número do Sokolovski, já que Rui havia ligado várias vezes com seu celular. Ela decidiu não mencionar que era esposa de Rui e ligar como uma estranha.
Na primeira tentativa, não conseguiu falar, na segunda, Sokolovski a ouviu, ficou em silêncio e depois começou a rir.
– Olha só, já esqueci que nasci aí. Como é que está tudo?
Catarina ficou aliviada.
– Está muito bonito, tranquilo, as pessoas são maravilhosas. Vou enviar fotos e vídeos. Igor Borisovich, eu passei por todos os departamentos e ninguém quer ajudar os velhinhos. Você é nossa única esperança.
– Vou pensar a respeito. Mande as fotos, quero relembrar como era.
Catarina passou dois dias focada em gravar vídeos e fotos para Sokolovski. As mensagens foram lidas, mas não houve resposta. Já estava começando a achar que tudo era em vão, quando Igor Borisovich a ligou:
– Catarina Vasconcelos, poderia vir ao escritório na Avenida da Liberdade amanhã às três? E traga um plano preliminar de trabalho.
– Claro, obrigada, Igor Borisovich!
– Sabe, é como voltar à infância. A vida é tão corrida – nunca temos tempo para parar e sonhar.
– Entendo você. Mas você devia vir pessoalmente. Estarei lá amanhã.
Assim que desligou, Catarina percebeu: era o escritório onde seu marido trabalhava. Ela sorriu, seria uma surpresa engraçada.
Chegou mais cedo, ainda tinha uma hora até o encontro. Estacionou o carro e foi até o escritório do marido. Não havia ninguém na recepção. Entrou na sala e ouviu vozes da sala de descanso. Era Rui e sua secretária.
Ao ver Catarina, eles ficaram claramente surpresos. Ela parou na porta, e Rui levantou-se, tentando se vestir rapidamente.
– Catarina, o que você está fazendo aqui?
Catarina saiu correndo da sala, e no corredor esbarrou em Igor Borisovich, entregou a ele os documentos e, sem conter as lágrimas, correu para a saída. Não lembrava como havia chegado à vila. Caiu na cama e começou a chorar.
De manhã, a batida na porta a acordou. Na entrada, estava Igor Borisovich, acompanhado de um grupo de pessoas.
– Bom dia, Catarina Vasconcelos. Vi que ontem você não estava pronta para conversar, então vim pessoalmente. Pode preparar um chá?
– Claro, entrem.
Igor não mencionou nada sobre o dia anterior. Enquanto tomavam chá, quase todos os moradores da vila se reuniram na casa. Igor olhou pela janela.
– Olha só, uma delegação! Catarina Vasconcelos, aquele não é o seu avô Ilyich?
Catarina sorriu: – É ele mesmo.
– Ele já era avô há trinta anos e a sua esposa nos alimentava com tortas.
O homem olhou preocupado para Catarina, e ela rapidamente respondeu: – Ana Matveevna está bem e ainda faz suas tortas famosas.
O dia passou cheio de atividades. As pessoas de Igor tiravam medidas, anotavam e calculavam.
– Catarina Vasconcelos, posso fazer uma pergunta? – perguntou Igor. – E sobre o seu marido… Você o perdoaria?
Catarina pensou por um momento, depois sorriu: – Não. Sabe, até sou grata a ele por tudo ter acontecido assim… E então?
Igor ficou em silêncio. Catarina se levantou e olhou para a casa: – Se a ponte for construída, esse lugar pode se tornar incrível! Poderíamos reformar as casas, criar espaços para relaxar. A natureza aqui é intocada, verdadeira. Mas ninguém se importa. E se você não quisesse voltar para a cidade…
Igor a admirava. Ela era especial, decidida, inteligente. Antes não havia reparado, mas agora a via em toda sua beleza.
– Catarina, posso voltar mais vezes?
Ela olhou atentamente para ele: – Venha, ficarei feliz.
A construção da ponte avançou rapidamente. Os moradores agradeciam Catarina, e os jovens começaram a voltar. Igor tornou-se visitante frequente.
O marido telefonou algumas vezes, mas Catarina ignorava as ligações e, em seguida, bloqueou seu número.
Certa manhã, houve uma batida na porta. Catarina, ainda sonolenta, abriu e encontrou Rui à sua porta.
– Oi, Catarina. Estou aqui por você. Já chega de má vontade. Desculpe, – disse ele.
Catarina riu: – “Desculpe”? Isso é tudo?
– Ah, tá bom… Vamos, prepare-se, estamos indo para casa. Não vai me expulsar, vai? E, aliás, a casa não é só sua, não esqueceu?
– Agora você vai ver! – exclamou Catarina.
A porta rangeu, e da sala saiu Igor vestido de maneira casual: – Esta casa foi comprada com recursos da minha empresa. Ou você, Rui Alexandre, acha que sou tolo? Há uma auditoria acontecendo no escritório, e você terá que responder a muitas perguntas. E Catarina, por favor, não se preocupe – não é bom para você nesse estado…
Os olhos de Rui se alargaram. Igor abraçou Catarina: – Ela é minha noiva. Seria gentil deixar a casa. Os documentos de divórcio já foram apresentados, aguarde a notificação.
O casamento foi celebrado na vila. Igor confessou que voltou a se apaixonar pelo lugar. A ponte foi construída, a estrada foi reformada, e uma loja foi inaugurada. As pessoas começaram a comprar casas como veranistas. Catarina e Igor também decidiram renovar sua casa – para ter um lugar onde ir, quando tivessem filhos.
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