– Estela, não entendo o que desejas, – disse Inês.

– Não é nada de especial, – respondeu Esteban. – Apenas quero um tempo sozinho, descansar. Vai… Viaja para a quinta, relaxa, perde uns quilos. Senão, ficarás cada vez mais cheia.

Ele lançou um olhar crítico para o corpo da esposa. Inês sabia que tinha engordado devido ao tratamento, mas não quis discutir.

– Onde fica essa quinta? – perguntou ela.

– Numa localização muito pitoresca, – riu-se Esteban. – Tenho certeza de que gostará.

Inês decidiu não contestar. Também queria um tempo para si. “Provavelmente, estamos apenas cansados um do outro”, pensou. “Deixa ele sentir minha falta. Não voltarei até que ele peça.”

Ela começou a arrumar suas coisas.

– Não ficas triste? – perguntou Esteban. – É só por um tempo, apenas para descansar.

– Não, está tudo bem, – forçou um sorriso Inês.

– Então vou, – Esteban deu um beijo em sua bochecha e saiu.

Inês suspirou pesadamente. Seus beijos já não tinham a mesma intensidade de antes.

A viagem levou muito mais tempo do que esperava. Inês se perdeu duas vezes – o GPS estava falhando e a conexão celular era inexistente. Finalmente, apareceu uma placa com o nome da aldeia. O lugar era isolado, as casas eram de madeira, mas bem cuidadas, com janelas ornamentadas.

“Certamente, aqui não há comodidades modernas”, pensou Inês.

E ela estava correta. A casa era uma cabana meio desmoronada. Sem um carro e sem telefone, sentir-se-ia como se estivesse vivendo em outra era. Inês retirou o celular. “Vou ligar para ele”, decidiu, mas ainda assim não havia sinal.

O sol começava a se pôr e Inês estava cansada. Se não entrasse na casa, teria que passar a noite no carro.

Não queria voltar para a cidade e dar a Esteban a oportunidade de dizer que ela não estava dando conta.

Inês saiu do carro. Sua jaqueta vermelha parecia estranha no meio da paisagem rural. Ela sorriu para si mesma.

– Bem, Inês, não iremos nos perder, – disse em voz alta.

Pela manhã, foi acordada pelo grito estridente de um galo debaixo da janela do carro, onde adormeceu.

– Que barulho é esse? – reclamou Inês, abrindo o vidro.

O galo a observou com um olho e voltou a gritar.

– O que você está gritando? – irritou-se Inês, quando viu que um vassoura passou rapidamente pela janela, fazendo o galo silenciar.

Um homem idoso apareceu à porta.

– Bom dia! – cumprimentou-o.

Inês olhou para ele com surpresa. Personagens como aqueles pareciam extintos, como se tivessem saído de um conto de fadas.

– Não fique zangada com nosso galo, – disse o avô. – Ele é bom, só grita como se o estivessem maltratando.

Inês riu; o sono desapareceu instantaneamente. O avô também sorriu.

– Você vai ficar muito tempo ou é só uma visita?

– Vim para descansar, o tempo que aguentar, – respondeu Inês.

– Entre, querida. Vamos tomar café. Você vai conhecer a minha esposa. Ela faz tortas… Mas não há quem as coma. Os netos vêm uma vez por ano, os filhos também…

Inês aceitou. Era necessário conhecer os vizinhos.

A esposa do senhor Ildefonso se revelou uma verdadeira avó de contos de fadas – vestida com um avental, um lenço na cabeça, sorriso desdentado e rugas simpáticas. A casa era limpa e acolhedora.

– Que lugar maravilhoso vocês têm! – exclamou Inês. – Por que os filhos vêm tão raramente?

A senhora Ana balançou a mão.

– Nós pedimos para que não venham. As estradas estão péssimas. Depois da chuva, uma semana sem conseguir sair. Antigamente havia uma ponte, bem velha, mas havia. Há uns cinco anos desmoronou. Vivemos como eremitas. Uma vez por semana o Ildefonso vai ao mercado. O barco não suporta. Ildefonso é forte, mas a idade…

– Que tortas divinas! – elogiou Inês. – Ninguém se importa com as pessoas? Alguém deve tomar a frente nisso.

– E quem somos nós? Apenas cinquenta pessoas. Já foram mil. Agora, todos se foram.

Inês refletiu sobre isso.

– Estranho. E a administração, onde fica?

– Do outro lado da ponte. E para contornar são 60 quilômetros. Acha que não tentamos? A resposta é única: não há dinheiro.

Inês percebeu que havia encontrado uma missão durante seu descanso.

– Conte-me como chegar à administração. Ou irão comigo? Não deve chover.

Os velhinhos trocaram olhares.

– Você fala sério? Veio aqui para descansar.

– Falo absolutamente sério. O descanso pode ser diferente. E se eu voltar e chover novamente? Vou me esforçar por mim mesma.

Os velhinhos sorriram calorosamente.

Na administração municipal, disseram-lhe:

– Já basta! Vocês nos fazem parecer os vilões. Olhem a estrada da cidade! Quem, em sã consciência, vai investir em uma ponte para uma aldeia com cinquenta habitantes? Procurem um patrocinador. Como o Sampaio. Já ouviram falar dele?

Inês acenou com a cabeça. Claro que conhecia – Sampaio era o proprietário da empresa onde trabalhava seu marido. Ele era daquelas bandas, mas os pais tinham se mudado para a cidade quando ele tinha por volta de dez anos.

Refletindo a noite toda, Inês tomou coragem. Ela sabia o número do Sampaio – o marido ligou para ele algumas vezes de seu telefone. Decidiu não mencionar que era casada com Esteban e faturar como uma desconhecida.

Na primeira tentativa, não conseguiu falar, na segunda, Sampaio a ouviu, ficou em silêncio e depois riu.

– Sabem, já havia esquecido o quanto é bonito aqui. Como está agora?

Inês se alegrou.

– Muito bonito, tranquilo, as pessoas são maravilhosas. Vou enviar fotos e vídeos. Senhor Ildefonso, fui a todas as autoridades – ninguém quer ajudar os anciões. Só você pode nos ajudar.

– Pensarei. Envie as fotos, quero lembrar como era.

Inês passou dois dias capturando vídeos e fotos para Sampaio. As mensagens foram lidas, mas não houve resposta. Ela já estava convencida de que tudo era em vão, quando Sampaio lhe ligou:

– Inês, poderia vir ao escritório amanhã às três? E traga um esboço do plano de trabalho.

– Claro, obrigada, Sampaio!

– Sabe, é como um retorno à infância. A vida é tão corrida que não há tempo para parar e sonhar.

– Compreendo. Mas você precisa vir pessoalmente. Estarei lá amanhã.

Assim que desligou, Inês percebeu: aquele era o escritório onde trabalhava seu marido. Fez um sorriso: seria uma surpresa engraçada.

Chegou com antecedência, havia ainda uma hora livre antes do encontro. Estacionou o carro e foi até o escritório do marido. Não havia secretária. Entrou e ouviu vozes na sala de descanso. Ao entrar, encontrou Esteban e sua secretária.

Ao ver Inês, ambos ficaram atordoados. Ela parou na porta, enquanto Esteban se levantava, tentando ajustar suas calças.

– Inês, o que você está fazendo aqui?

Inês saiu correndo do escritório e esbarrou com Sampaio no corredor, entregou-lhe os documentos e, sem conseguir conter as lágrimas, correu para a saída. Não se lembrava como chegou até a aldeia. Jogou-se na cama e desatou a chorar.

Pela manhã, um batida na porta a despertou. Na entrada, estava Sampaio com um grupo de pessoas.

– Bom dia, Inês. Vi que ontem você não estava pronta para conversar, então vim eu mesmo. Pode nos servir chá?

– Claro, entrem.

Sampaio não mencionou nada sobre o ocorrido no dia anterior. Enquanto tomavam chá, quase todos os aldeãos estavam na casa. Sampaio olhou pela janela.

– Uau, uma delegação! Inês, aquele não é o avô Ildefonso?

Inês sorriu: – É ele mesmo.

– Há trinta anos ele já era avô, e sua esposa nos alimentava com tortas.

Um homem olhou preocupado para Inês, e ela rapidamente respondeu: – A senhora Ana está bem e continua fazendo suas famosas tortas.

O dia passou em agitações. As pessoas de Sampaio mediam, anotavam e contavam.

– Inês, posso te fazer uma pergunta? – perguntou Sampaio. – Sobre seu marido… Você vai perdoá-lo?

Inês pensou um pouco e então sorriu: – Não. Sabe, sou até grata a ele por tudo isso… Por quê?

Sampaio permaneceu em silêncio. Inês se levantou e olhou ao redor da casa: – Se a ponte for construída, aqui poderá se tornar um lugar surpreendente! Reformar as casas, criar áreas para descanso. A natureza é intocada, genuína. Mas não há quem se preocupe com isso. E se você não quisesse voltar para a cidade…

Sampaio a admirava. A mulher era especial, decidida, inteligente. Antes ele não percebia, mas agora a via em sua totalidade.

– Inês, posso voltar aqui mais vezes?

Ela olhou atentamente para ele: – Venha, ficarei feliz.

A construção da ponte estava progredindo rapidamente. Os moradores agradeciam a Inês, e os jovens começaram a retornar. Sampaio tornou-se um visitante frequente.

Esteban ligou várias vezes, mas Inês ignorou as chamadas e depois bloqueou seu número.

Certa manhã, uma batida na porta a acordou. A sonolenta Inês abriu a porta, esperando pelo pior, mas encontrou Esteban.

– Olá, Inês. Estou aqui por você. Já chega de birra. Desculpe-se, – disse ele.

Inês riu: – “Desculpe-se”? É só isso?

– Ora, não seja assim… Arrume-se, vamos para casa. Não vai me expulsar, vai? E além disso, a casa não é sua, você não se lembra?

– Agora eu vou te expulsar! – exclamou Inês.

A porta rangeu, e de dentro do quarto saiu Sampaio em roupas casuais: – Esta casa foi comprada com os recursos da minha empresa. Ou você, Esteban, acha que sou um tolo? Há uma auditoria no escritório agora, e você terá que responder a muitas perguntas. E eu pediria a Inês que não se preocupasse – não é bom para ela nessa situação…

Os olhos de Esteban se arregalaram. Sampaio abraçou Inês: – Ela é minha noiva. Por favor, saia de casa. Os documentos para o divórcio já foram entregues, aguarde a notificação.

O casamento foi celebrado na aldeia. Sampaio confessou que havia redescoberto seu amor por aquele lugar. A ponte foi construída, a estrada reformada, e a loja reaberta. As pessoas começaram a comprar casas de veraneio. Inês e Sampaio também decidiram renovar sua casa – um lar para quando seus filhos chegassem.


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