– Pedro, eu não entendo o que você quer, – disse a Catarina.
– Ah, nada de mais, – respondeu Pedro. – Só quero um tempo sozinho para relaxar. Olha… Vai passar um tempo na casa de campo, relaxa, perde uns quilos. Você anda bem… cheia.
Ele lançou um olhar crítico para o corpo da esposa. Catarina sabia que tinha engordado por conta do tratamento, mas não quis discutir.
– Onde fica essa casa de campo? – perguntou ela.
– Em um lugar muito bonito, – sorriu Pedro. – Tenho certeza de que você vai gostar.
Catarina decidiu não contestar. Ela também estava precisando de descanso. “Talvez estejamos apenas cansados um do outro,” pensou. “Deixa ele sentir minha falta. Não volto até ele me pedir.”
Começou a arrumar suas coisas.
– Você não vai ficar chateada, vai? – perguntou Pedro. – É só por um tempo, só para descansar um pouco.
– Não, está tudo certo, – respondeu Catarina, forçando um sorriso.
– Então estou indo, – Pedro a beijou na bochecha e saiu.
Catarina suspirou pesadamente. Seus beijos já não tinham mais a mesma paixão de antes.
A viagem levou muito mais tempo do que ela esperava. Catarina se perdeu duas vezes – o GPS falhou e o sinal do celular não funcionava. Finalmente, apareceu uma placa indicando a vila. O lugar era remoto, as casas eram de madeira, mas bem cuidadas, com janelas de madeira entalhadas.
“Devem faltar muitas comodidades modernas por aqui,” pensou Catarina.
Ela estava certa. A casa era uma velha cabana em ruínas. Sem carro e sem telefone, iria se sentir como se estivesse no século passado. Catarina pegou o celular. “Vou ligar para ele,” decidiu, mas a conexão ainda estava ruim.
O sol começava a se pôr, e Catarina estava cansada. Se não entrasse na casa, teria que passar a noite no carro.
Voltar para a cidade não era uma opção, e não queria dar a Pedro o motivo de dizer que ela não dava conta.
Catarina saiu do carro. Sua jaqueta vermelha brilhante parecia deslocada no cenário rural. Ela sorriu para si mesma.
– Então, Catarina, não vamos desistir, – disse em voz alta.
De manhã, ela foi acordada pelo grito estridente de um galo sob a janela do carro, onde adormeceu.
– Que barulho é esse? – resmungou Catarina ao abaixar o vidro.
O galo virou a cabeça e gritou novamente.
– Por que você está gritando? – reclamou Catarina, mas então viu uma vassoura passando pela janela, e o galo se silenciou.
Um homem idoso apareceu na porta.
– Bom dia! – cumprimentou-o.
Catarina o observou surpresa. Aqueles personagens pareciam ter desaparecido há tempos – como se tivesse saído de uma história em quadrinhos.
– Não fique bravo com nosso galo, – disse o senhor. – Ele é bom, mas grita como se estivesse sendo estrangulado.
Catarina riu, e o sentimento de sono desapareceu. O senhor também sorriu.
– Você vai ficar muito tempo ou é só visita?
– Vim para descansar, o quanto a paciência aguentar, – respondeu Catarina.
– Então venha nos visitar, minha menina. Para o café da manhã. Vai conhecer a minha esposa. Ela faz tortas… Mas não tem ninguém para comer. Meus netos vêm uma vez por ano, os filhos também…
Catarina não recusou. Ela precisava conhecer os vizinhos.
A esposa de Pedro foi uma verdadeira avó de conto de fadas – de avental, com um lenço na cabeça, um sorriso largo e rugas amáveis. A casa estava limpa e aconchegante.
– Que lugar maravilhoso vocês têm! – elogiou Catarina. – Por que os filhos vêm tão pouco?
– Pedimos que não venham, – respondeu Ana. – As estradas são ruins. Depois da chuva, não conseguimos sair por uma semana. Antes tínhamos uma ponte, mesmo antiga. Mas desabou faz cinco anos. Vivemos como eremitas. Uma vez por semana o Pedro vai ao mercado. O barco já não aguenta. O Pedro é forte, mas a idade…
– Essas tortas são divinas! – elogiou Catarina. – Não é possível que ninguém se importe com vocês. Alguém deveria fazer algo a respeito.
– E quem somos nós? Somente cinquenta pessoas vivem aqui. Antes éramos mil. Mas agora todos se foram.
Catarina ficou pensando.
– Estranho. E a administração, onde está?
– Do outro lado da ponte. E o desvio são 60 quilômetros. Você acha que não fomos lá? A resposta é sempre a mesma: não há dinheiro.
Catarina percebeu que encontrou um propósito para seu descanso.
– Me diga onde encontrar a administração. Ou você vai comigo? Não há previsão de chuva.
Os idosos se entreolharam.
– Você está falando sério? Veio aqui para relaxar.
– Estou completamente séria. Descansar pode ter várias formas. E se eu voltar e houver chuva? Eu vou tentar resolver isso.
Os idosos sorriram calorosamente.
Na administração da cidade, ela foi recebida com indiferença:
– Já basta de incomodar! Estamos saindo como vilões. Olhe para as ruas da cidade! Quem, na sua opinião, daria dinheiro para uma ponte em uma vila com cinquenta habitantes? Procurem um patrocinador. Por exemplo, o Sokolovski. Já ouviram falar dele?
Catarina assentiu. Claro, já tinha ouvido—Sokolovski era o dono da empresa em que seu marido trabalha. Ele era da região, mas seus pais se mudaram para a cidade quando ele tinha uns dez anos.
Depois de repensar tudo a noite inteira, Catarina decidiu que precisava agir. Sabia o número de Sokolovski—Pedro havia ligado várias vezes do telefone dela. Decidiu não mencionar que era seu marido, mas ligar como se fosse uma desconhecida.
Na primeira tentativa, não conseguiu falar. Na segunda, Sokolovski a ouviu, pausou, e depois riu.
– Sabe, eu já tinha esquecido que nasci lá. Como está agora?
Catarina ficou animada.
– É muito bonito, tranquilo, as pessoas são incríveis. Vou enviar fotos e vídeos. Igor Borisovich, eu consultei todas as instituições – ninguém quer ajudar os idosos. Só você resta.
– Vou pensar. Mande as fotos, quero lembrar como era.
Catarina passou dois dias tirando vídeos e fotos para Sokolovski. As mensagens foram lidas, mas nenhuma resposta veio. Já estava pensando que era em vão, quando Igor Borisovich ligou:
– Catarina Vasconcelos, você poderia vir ao escritório na Avenida Brasil amanhã, às três? E traga um plano preliminar de trabalho.
– Claro, obrigada, Igor Borisovich!
– Sabe, é como voltar à infância. A vida é uma corrida – não dá tempo de parar e sonhar.
– Entendo você. Mas vale a pena você vir pessoalmente. Amanhã estarei lá.
Assim que colocou o telefone no gancho, Catarina percebeu: era aquele escritório onde seu marido trabalhava. Sorriu: seria uma surpresa engraçada.
Chegou cedo, ainda tinha uma hora até a reunião. Estacionou o carro e se dirigiu ao escritório do marido. O secretário não estava. Entrou e ouviu vozes da sala de descanso e seguiu para lá. Lá estavam Pedro e sua secretária.
Ao ver Catarina, eles ficaram claramente surpresos. Ela congelou na porta, e Pedro se levantou, tentando se arrumar.
– Catarina, o que você está fazendo aqui?
Catarina saiu correndo do escritório, esbarrando em Igor Borisovich no corredor, entregou-lhe os documentos e, sem conter as lágrimas, correu para a saída. Não lembrava como tinha chegado à vila. Caindo na cama, começou a chorar.
Na manhã seguinte, alguém bateu à porta e a acordou. Na entrada estava Igor Borisovich com um grupo de pessoas.
– Bom dia, Catarina Vasconcelos. Vejo que ontem você não estava pronta para conversar, então vim pessoalmente. Você pode preparar um chá?
– Claro, entrem.
Igor não mencionou o que aconteceu no dia anterior. Enquanto tomavam chá, quase todos os moradores da vila se reuniram na casa. Igor espiou pela janela.
– Uau, que comissão! Catarina Vasconcelos, isso não é o velho D. Ivo?
Catarina sorriu: – Exatamente.
– Ele já era avô há trinta anos, e sua esposa nos alimentava com tortas.
O homem olhou preocupado para Catarina, e ela rapidamente respondeu: – Ana Matilde está viva e fazendo suas tortas famosas.
O dia passou cheio de atividades. As pessoas de Igor mediam, anotavam, contavam.
– Catarina Vasconcelos, posso te fazer uma pergunta? – perguntou Igor. – Você vai perdoar seu marido?
Catarina pensou um pouco, depois sorriu: – Não. Sabe, sou até grata a ele pelo que aconteceu… E o que tem isso?
Igor permaneceu em silêncio. Catarina se levantou e olhou para a casa: – Se a ponte for construída, este lugar pode se tornar um ótimo destino! Reformar as casas, criar áreas para lazer. A natureza é intocada, genuína. Mas não há ninguém para cuidar disso. E se você não quiser voltar para a cidade…
Igor a admirava. Ela era especial, decidida, inteligente. Ele nunca tinha notado isso antes, mas agora via sua beleza.
– Catarina, posso voltar?
Ela o olhou atentamente: – Venha, ficarei feliz.
A construção da ponte avançou rapidamente. Os moradores agradeceram a Catarina, os jovens começaram a voltar. Igor se tornou um visitante frequente.
Pedro ligou algumas vezes, mas Catarina ignorou as chamadas e, em seguida, bloqueou o número.
Certa manhã, houve uma batida na porta. Catarina, sonolenta, abriu a porta esperando o pior, mas, na entrada, estava Pedro.
– Oi, Catarina. Estou aqui para te buscar. Chega de fazer bico. Desculpe, – disse ele.
Catarina riu: – “Desculpe”? Isso é tudo?
– Ah, vem… Vamos para casa. Você não vai me expulsar, vai? E, de qualquer forma, a casa não é sua, não esqueceu?
– Agora eu vou te expulsar! – exclamou Catarina.
A porta rangeu, e de dentro do quarto saiu Igor em roupas casuais: – Esta casa foi comprada com o dinheiro da minha empresa. Ou você, Pedro Alves, acha que sou burro? Agora temos uma auditoria no escritório, e você terá que responder a muitas perguntas. E Catarina, por favor, não se preocupe – isso é prejudicial em sua condição…
Os olhos de Pedro se arregalaram. Igor abraçou Catarina: – Ela é minha noiva. Por favor, saia da casa. Os documentos de divórcio já foram apresentados, aguarde a notificação.
O casamento foi realizado na vila. Igor confessou que havia reapaixonado-se por aquele lugar. A ponte foi construída, as estradas consertadas, um mercado foi aberto. As pessoas começaram a comprar casas como veranistas. Catarina e Igor também decidiram renovar sua casa – para terem um lugar para voltar quando os filhos chegassem.
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