— «Devolve-me tudo o que eu te dei!» — exigiu Henrique, entrando no quarto com um ar sombrio.

— «O quê?!» — perguntou Clara, assustada, levantando-se apressadamente de uma velha cadeira. Ela acabara de voltar de uma corrida, vestindo leggings esportivas e uma blusa leve, e seu rosto demonstrava um leve cansaço.

Henrique cruzou os braços, sua expressão carregava um evidente ressentimento:
— «Disse: devolve tudo o que eu te dei. Você não merece.»

Clara ficou aturdida. Não fazia muito tempo, eles pareciam um casal perfeito — pelo menos, era assim que todos pensavam. Sua história começou dois anos antes, num pequeno bar, onde Clara foi após as aulas na universidade. Naquele tempo, ela era aluna do terceiro ano do curso de Letras, sonhando com uma carreira literária e escrevendo suas primeiras histórias. Henrique, por sua vez, trabalhava como analista de sistemas em uma grande empresa, usava um relógio caro e passava a impressão de ser uma pessoa autoconfiante.

— «Estranho que nunca nos encontramos antes», — sorriu ele ao servir a cidra em uma garrafa, naquela noite em que se conheceram.

— «Não sei, normalmente não venho aqui. Minha amiga me trouxe… mas ela já foi embora», — confessou Clara.

Naquela época, suas conversas fluíam facilmente — desde novidades literárias até política. Henrique a surpreendia com sua atenção e segurança. Clara sentia que sua força tranquila a atraía, mas ao mesmo tempo, a intimidava levemente.

Eles se encontravam sem grandes planos. Henrique dizia que estava cansado de romances superficiais, e Clara simplesmente aproveitava a companhia. Ele a convidava para cafés, fazia surpresas adoráveis — como camisetas com estampas de seus livros favoritos. Uma vez, ele lhe deu uma edição rara dos poemas de Florbela Espanca, e Clara pensou que ele a compreendia de maneira impressionante.

Henrique acreditava que era mais velho e experiente, e por isso, frequentemente repetia que precisava “cuidar dela.” Clara achava isso carinhoso. Ele lhe dava dinheiro para taxi, comprava roupas caras “de acordo com seu gosto.” Com o tempo, ela foi se acostumando com sua generosidade, sem pensar que um dia ele poderia exigir tudo de volta.

Somente um mês se passou desde a separação. Clara achava que tudo tinha acabado de forma pacífica. Henrique pegou suas coisas, deixando na porta dela uma sacola com utensílios e outros objetos que ela havia emprestado. Mas nada foi mencionado sobre “devolver presentes.”

E agora, ele estava diante dela, a encarando, e pronunciando as mesmas palavras: «Devolve-me todos os presentes — você não merece!»

— «Henrique, calma», — tentou tranquilizá-lo Clara. — «Sobre o que você está falando? Que presentes? Você mesmo os deu…»

Ele ergueu o queixo com orgulho:
— «Sim, eu dei. Mas na época, pensava que estávamos juntos, que havia uma conexão verdadeira entre nós. E agora… Descobri que você já saiu com outra pessoa!»

Clara não podia acreditar no que ouvia:
— «Saí com outra pessoa?! De onde você tirou isso? E mesmo que sim, não somos mais um casal. Tenho o direito de viver a minha vida.»

— «Claro, claro», — ironizou Henrique. — «Mas já que você encontrou rapidamente outro alguém, por que não devolve o relógio que te dei de aniversário? E o laptop que eu paguei… Lembra daquele vestido da marca italiana? E…»

— «Espera», — interrompeu Clara. — «Você realmente quer que eu devolva todas essas coisas só porque terminamos?!»

Henrique assentiu friamente:
— «Sim. Você não merece. Afinal, você já não é mais minha namorada. Se decidiu recomeçar sua vida, que os presentes voltem para quem os pagou.»

Clara virou-se para a janela. Ela queria rir, mas a indignação crescia dentro dela. Por um lado, ela sabia que legalmente não era obrigada a devolver presentes. Por outro lado, diante dela estava um completo estranho, cujos olhos brilhavam com uma mistura de mágoa infantil e egoísmo.

— «Então você acha que tudo que me deu não foi um presente, mas um investimento? E agora quer tudo de volta?» — perguntou, tentando manter a calma.

— «Não foi isso que eu disse. Mas se você se considera ‘certa’ após nossas brigas, por que precisa das minhas coisas? Que seu novo pretendente as compre, se ele existir», — acrescentou ele, com veneno na voz.

Clara sentiu suas bochechas queimarem de raiva. Estava claro que Henrique veio para humilhá-la, para fazê-la se sentir culpada. Mas por que ela deveria se justificar?

— «O novo pretendente não é da sua conta, — disse ela, respirando fundo. — E sobre os presentes… Você realmente quer que eu os devolva? Tudo bem…»

— «Sim, quero», — repetiu ele, embora um leve traço de preocupação estivesse em sua voz — ele claramente não esperava que ela concordasse tão rapidamente.

Enquanto Clara organizava seus pensamentos, lembranças dos últimos dias que passaram juntos vieram à tona. Tudo começou com uma pequena discussão, quando ela anunciou que iria viajar para o mar com suas amigas. Henrique respondeu friamente: «Por que você precisa dessas amigas? Por que não podemos descansar sozinhos?» Durante a noite, a conversa se transformou em um grande conflito, onde acabaram por expor toda a mágoa acumulada. Henrique a culpava por não cuidar da casa e por estar muito ocupada com seus sonhos. Por sua vez, Clara o acusava de controlá-la e de não respeitar seu espaço pessoal.

O escândalo continuou. Henrique permitiu-se comentários depreciativos sobre sua formação e, em resposta, Clara declarou: «Seu caráter se tornou insuportável. Estou indo embora.» Terminaram naquele mesmo dia, combinando de “continuar amigos”, mas na prática, tudo seguiu de forma bem diferente.

Clara olhou para Henrique. Ele puxou os cabelos para trás e torceu os lábios nervosamente:
— «Então, você vai trazer tudo, ou eu vou ter que revirar sua casa?»

— «Revirar não vai», — disparou Clara. — «Fique no sofá, se quiser. Eu vou pegar tudo.»

Ela entrou no quarto, acendeu a luz e olhou ao redor. «O que ele me deu?» — pensou ela. O relógio estava na caixinha, o laptop sobre a mesa, o vestido no armário, a pulseira guardada na caixa… E ainda havia os tênis, a bolsa e muitas outras coisas. «Tudo bem, será uma surpresa para ele», — decidiu Clara.

Enquanto colocava os presentes na sacola, sentia uma mescla de mágoa e satisfação. Não queria guardar esses itens como lembrança de Henrique. «Leve, se é o que precisa. Sem isso, eu vou me virar», — disse a si mesma.

Quando Clara trouxe o pesado pacote, Henrique apenas lançou um olhar:
— «É só isso?»

— «Talvez não, mas vamos começar por aqui», — respondeu ela.

Henrique começou a vasculhar o conteúdo da sacola, como um auditor fazendo uma verificação. Primeiro, tirou o vestido, olhou a etiqueta e resmungou:
— «Duvido que você tenha usado uma vez. Muito bem, você lava e quem sabe eu vendo.»

Clara ficou em silêncio, observando a cena. Depois, ele retirou a bolsa, a pulseira… Finalmente, chegou ao laptop, cuidadosamente embalado na capa preta.
— «Isso é definitivamente meu. Eu paguei por ele. Como combinamos: devolva.»

Clara assentiu, mantendo a compostura. Mas uma pergunta ressoava dentro dela: «Por que ele é tão mesquinho? É apenas para se vingar?»

No fundo da sacola, estavam os relógios — aqueles com a gravação: «Com a querida Clara – para sempre juntos». Henrique pegou-os, leu a inscrição. Por um instante, a nostalgia surgiu em seus olhos, mas logo deu lugar ao desprezo.
— «Isso também é meu. A gravação agora não faz sentido», — disse friamente. — «O que mais sobrou?»

— «Parece que tudo», — respondeu Clara indiferença. — «Se não contarmos as besteiras: bichinhos de pelúcia, buquês, doces… Quer devolver os doces também?»

Ela não conseguiu conter a ironia, mas Henrique levou isso ao pé da letra:
— «As pelúcias também, por favor. Eu as dei quando estávamos juntos. Portanto, são minhas.»

Clara suspirou, sentindo uma mistura de risos e amargura. Ela foi ao quarto e trouxe alguns ursos de pelúcia, que há muito estavam empoeirando na prateleira. Colocou-os na sacola.

— «Bom, você está satisfeita?» — provocou ele.

— «Não sei, mas parece que você quer algo com isso», — respondeu ela, franzindo a testa.

Clara lembrou-se da pulseirinha que ele lhe deu no início do relacionamento. Simples, comprada em uma feira de rua. Na época, parecia tão tocante. Ela guardava em uma caixa do pai, ao lado de fotografias e cartões antigos.

«Por que não? Ele que leve, se essa é a história», — pensou.

Ela trouxe a caixinha, tirou a corda desbotada com a pérola de metal e a jogou na sacola. Henrique não entendeu de imediato o que era, mas logo reconheceu. Sua sobrancelha se ergueu.
— «Nem pensei que você ainda guardava isso. Mas tudo bem, já que você vai devolver, vamos lá.»

Clara notou um brilho de nostalgia em seus olhos. Talvez ele também se lembrou das caminhadas pela orla, das risadas e do sorvete na mesma taça. Mas o orgulho e a mágoa prevaleceram.

Nesse momento, tocaram a campainha. Clara abriu a porta e viu sua amiga Ana com sacolas de compras. Elas planejavam fazer pizza e assistir a uma série juntas. Ao ver Henrique com uma sacola nas mãos, Ana ficou surpresa:
— «Oi. O que está acontecendo?»

— «Meu ex veio, exige os presentes de volta», — deu de ombros Clara.

— «Sério?» — ficou pasmada Ana. — «Homem, você não acha que isso é demais?»

— «Não se intrometa», — cortou Henrique. — «Estou levando apenas o que é meu.»

Ana balançou a cabeça:
— «Clara, você precisa de ajuda para coletar a caixa de ‘generosidades’ dele? Quem sabe encontramos a pasta de dente?»

Clara riu, enquanto as orelhas de Henrique coraram de raiva. Ele queria dizer algo, mas mudou de ideia.

Por fim, Clara se aproximou da porta, abriu-a e olhou para Henrique com indiferença:
— «Aqui está tudo o que você me deu. Se descobrir uma caneta no armário, avise-me que enviarei pelo correio. Não há mais nada.»

Henrique apertou a sacola, que ameaçava estourar com a quantidade de coisas. Ele esperava lágrimas, súplicas para deixar o laptop ou o relógio. Mas Clara apenas ficou ali — calma e, ao que parecia, até aliviada.

— «Você não vai protestar? Não vai tentar ficar com eles?» — ficou surpreso.

— «Por quê? Essa é a sua escolha — exigir tudo de volta. E a minha é devolver. Não quero lembranças do que você se tornou.»

Ele ficou em silêncio, depois perguntou:
— «O laptop é necessário para seus estudos. Estudos e tudo mais…»

— «Eu me viro. Vou ganhar dinheiro e comprar outro. Liberdade é mais valiosa que suas ‘benesses’.»

Henrique fez um som de desdém:
— «Bem, se é assim… Adeus. Vamos ver como você será sem tudo isso.»

Ele se virou e desceu as escadas (o elevador estava fora de serviço). Clara fechou a porta. Ana deixou as sacolas e correu até a amiga:
— «Como você está? Não sente falta do laptop, do vestido? Isso é valioso!»

— «Um pouco chateada, — confessou Clara. — Mas se ele precisa levar, que leve. Quero recomeçar minha vida, sem o controle dele. Que fique tudo que está impregnado do ego dele.»

— «Incrível! Eu provavelmente teria feito uma cena, e você simplesmente desapegou. Isso significa que você merece algo melhor.»

Clara sorriu tristemente:
— «Veremos. Mas agora vamos fazer pizza. Depois, talvez fiquemos tristes, mas não por muito tempo.»

Elas se dirigiram à cozinha e Clara sentiu que estava um pouco mais leve do que nos últimos meses.

Mais tarde, o telefone vibrou. Mensagem de um colega de classe: «Oi, estou organizando uma noite de poesia na próxima semana. Você pode me ajudar na decoração? Dizem que você tem bom gosto.» Clara lembrou-se de seu sonho — organizar encontros literários. E agora surgiu uma oportunidade.

— «Ana, me chamaram para decorar o espaço para a noite de poesia! Que incrível!»

— «Claro, aceite! É uma ótima chance. Novas pessoas, conexões…»

Clara percebeu: agora ela estava livre. Ninguém mais ditaria como viver.

Dias depois, ao comprar um par de tênis novos no centro comercial, avistou uma silhueta conhecida. Era Henrique, acompanhado por uma loira elegante na frente de uma joalheria. Eles riam e conversavam animadamente.

Clara sentiu um leve aperto no coração: «Então, uma nova paixão? Ele exigirá os presentes dela também?» — pensou com ironia.

Tentou se esconder, mas Henrique a notou. Por um instante, congelou, depois virou-se e continuou a conversa. Clara sentiu que não se importava mais. Apenas uma leve fadiga e uma confiança: «A nossa história acabou. E isso é o melhor.»

No dia seguinte, o telefone de Henrique — Maria Pereira, a mãe dele, a quem Clara sempre respeitou pela sua bondade.

— «Clara, olá. Desculpe incomodar, mas não consigo entender o que aconteceu entre vocês… Ontem, Henrique veio até mim com um saco cheio das suas coisas e disse que vocês terminaram, e ele ‘devolveu os presentes’. O que isso significa? Por que ele os trouxe para mim?»

Clara suspirou:
— «Olá, Maria. Sim, nós terminamos. Ele quis que eu devolvesse tudo que havia me dado. Eu coletei tudo e dei a ele. Presumo que agora ele trouxe tudo para você. Não sei o que ele pretende fazer com isso. Talvez venda…»

— «Oh, menina, que idiota… Desculpe», — suspirou a mãe de Henrique. — «Estou tentando conversar com ele, mas é teimoso. Sinto muito. Você é uma garota maravilhosa. Eu gostava muito de você, achava que vocês se casariam…»

Clara sentiu tristeza:
— «Maria, obrigada pelas palavras gentis. Mas, infelizmente, nós não nos entendemos. O comportamento dele… é estranho, para dizer o mínimo. Embora, talvez, seja para melhor. Não quero voltar a esse relacionamento. Tudo acabou.»

— «Eu entendo, — disse a mulher suavemente. — Se precisar de ajuda ou se quiser recuperar algo que não conseguiu pedir a ele, pode sempre me chamar. Eu realmente lamento.»

Clara agradeceu e despediu-se. Após desligar, ficou por um tempo olhando para a parede. Parecia claro que Henrique não tinha maturidade para manter um relacionamento normal. Ele escolheu o caminho da pequena vingança. «Bem, eu não vou deixar isso me afetar», — decidiu.

Uma semana depois, Clara estava totalmente imersa na organização da noite de poesia na universidade. Confiaram a ela a decoração e o roteiro da parte de abertura. Ela corria pelas lojas em busca de tecidos, negociava com um artista sobre o banner, escolhia músicas. Dentro dela, despertou uma energia incrível. O término e a devolução dos presentes pareciam tê-la libertado das constantes pressões e críticas que Henrique a impunha.

A noite foi um sucesso — a decoração e o roteiro receberam muitos elogios. Clara sentiu uma inspiração que não experimentava há muito tempo. No final do evento, um dos poetas convidados, um jovem chamado Rafael, se aproximou:

— «Clara, certo? Excelente ideia com os lanternas no palco e a pausa musical. Muito atmosférico. Você também escreve poesias?»

Ela ficou tímida:
— «Às vezes, mas não mostro a ninguém.»

— «Que pena. Seria interessante ler. Se você quiser compartilhar — me escreva», — ele estendeu um cartão.

Clara pegou automaticamente e sorriu. «Uma nova etapa começa», — pensou.

Na manhã seguinte, houve uma batida na porta. Um entregador estava à porta com uma caixa. Clara a trouxe para dentro e descobriu o laptop, muito bem embalado na mesma capa. Junto havia um bilhete: «Leve de volta, não preciso disso. Faça o que quiser com seus escritos. Henrique.»

Clara balançou a cabeça e sorriu amargamente: «Parece que ele decidiu que vendê-lo seria difícil, ou o dinheiro estava curto. Ou talvez a mãe o tenha convencido a devolver. Muito bem, que seja assim.»

Ana, a quem Clara imediatamente enviou uma mensagem, sugeriu: «Se você não quer usar algo que ele devolveu, pode vendê-lo e comprar algo novo. Mas se precisar para o trabalho — mantenha.»

Clara pensou e decidiu: «Vou encarar isso como uma ferramenta sem alma. Não há mais apego emocional.»

Um mês passou. Clara estava ativamente organizando eventos culturais, fez um estágio em um centro criativo. Os primeiros ganhos, mesmo que modestos, já a permitiam viver. Ela comprou um relógio, um par de tênis confortáveis, inscreveu-se em um curso de edição literária.

Certa noite, enquanto tomava chá com Ana em um café, o telefone tocou. Na tela, apareceu o nome «Henrique». Clara olhou para a amiga, que deu de ombros: «Atenda, quem sabe.»

— «Alô?» — disse Clara.

— «Oi…» — a voz de Henrique soava cansada. — «Queria saber como você está. Está tudo bem?»

Clara fechou os olhos e suspirou. As palavras ecoavam em sua mente: «Devolve-me todos os presentes — você não merece.» Mas naquele momento, ela só sentia uma leve compaixão.

— «Está tudo bem, Henrique. Estou estudando e trabalhando. E você?»

— «Apenas a mesma rotina. Olha, eu sei que me comportei mal. Desculpe, se puder», — disse ele, em um tom baixo. — «Não gostaria de perder o contato com você completamente.»

— «Bem… aceito suas desculpas, mas o passado não volta. Vamos evitar prolongar essa história. Cada um tem seu caminho», — respondeu Clara tranquilamente.

Henrique ficou em silêncio por alguns segundos:
— «Entendi… Quem sabe um dia a gente se encontre, como velhos amigos?»

— «Não acho que isso seja necessário. Boa sorte para você», — disse Clara, encerrando a conversa sem remorsos.

Ela colocou o telefone na mesa e sorriu para Ana. Esta, percebendo em seu olhar que a conversa acabara, perguntou:

— «E então, o que ele queria?»

— «Parece que está lamentando o que fez. Mas eu não quero voltar ao passado. Tudo acabou», — respondeu Clara em voz baixa, sentindo a agradável sensação de liberdade.

O garçom se aproximou para anotar o pedido de sobremesa. Clara pensou que a vida estava seguindo em frente e que agora, ela mesma escolhia sua direção. Nenhum “presente” do passado poderia ditar as regras para ela.

Seis meses depois, Clara se formou na universidade, continuou trabalhando no centro cultural e publicou sua primeira coletânea de ensaios em um jornal online. Ela alugou um pequeno apartamento aconchegante, mobiliando-o apenas com o que considerava necessário. Um dia, enquanto se mudava, encontrou a caixinha com a pulseirinha que Henrique também devolvera através da mãe. Clara sorriu ao relembrar o início de sua história.

Mas os sentimentos mistos duraram pouco. Ela colocou a trinket de volta na caixa e começou a organizar os livros. «Que o passado fique no passado», — decidiu. Em algum lugar profundo dentro de si, ela sabia que fizera a escolha certa ao devolver aqueles “presentes”, mas mantivera o mais importante — sua dignidade e sua capacidade de seguir em frente.

Agora, se alguém dissesse: «Devolve-me tudo o que eu te dei», — ela sabe como responder. Essa resposta não se refere a bens materiais, mas sobre quem ela se tornou — uma pessoa da qual nenhuma vingança de um ex poderá impedir de ser feliz.


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