**12 de Junho, 2024**
Hoje foi um daqueles dias que fica marcado na memória. Eu e o meu colega estávamos a fazer a nossa ronda habitual na autoestrada perto de Évora, um troço conhecido pelos acidentes, especialmente onde a reta parece convidar os condutores a acelerar mais. Tudo parecia normal, até demasiado tranquilo.
De repente, um carro prateado disparou à nossa frente como se não estivéssemos ali. Olhei para o radar — 150 km/h. Era uma estrada quase deserta, em plena luz do dia. Alguém poderia pensar que o condutor só estava com pressa, mas isso nunca justifica quebrar a lei.
Verifiquei as matrículas — registo limpo, sem problemas. Liguei os sinais luminosos e acionei a sirene, ordenando que o condutor parasse. O carro abrandou por um instante, mas depois acelerou novamente.
Pelo altifalante, ordenei com firmeza:
— Condutor, pare imediatamente! Cometeu uma infração e terá de arcar com as consequências.
Após alguns metros, o carro encostou finalmente. Saí do carro e, seguindo o protocolo, aproximei-me do lado do condutor. Ao volante, estava uma mulher jovem, por volta dos trinta anos. O rosto dela estava pálido, os olhos cheios de medo.
— Senhora, tem noção do limite de velocidade nesta zona?
— Sim… sim, eu sei… — murmurou, quase sem voz.
— Então, posso ver a sua carta de condução e os documentos do veículo? — perguntei, inclinando-me para a janela.
Foi então que notei algo estranho aos seus pés. No chão do carro, havia um líquido a acumular-se… mas não era água derramada. Percebi na hora — o trabalho de parto tinha começado.
— Senhora… rompeu águas?
— Por favor… ajudem-me… estou sozinha… — chorou ela.
Não hesitei. Liguei para a central, avisei que estava a levar uma grávida para o hospital mais próximo. Transferimo-la para a nossa viatura, e eu conduzi rápido, mas com cuidado. Os seus gritos aumentavam — as contrações estavam cada vez mais fortes.
Agarrei-lhe a mão, tentando acalmá-la enquanto eu próprio lutava para manter a compostura.
Chegámos ao Hospital do Espírito Santo em Évora a tempo. A equipa já estava à espera, avisada pela minha chamada. Ela foi levada para a maternidade num instante.
Horas depois, voltei ao hospital — ainda abalado com o que acontecera. Uma enfermeira saiu à minha frente, sorridente:
— Parabéns, é uma menina. Forte e saudável. A mãe também está bem.
É nestes momentos que me lembro do valor deste trabalho. A lei importa, mas a compaixão importa ainda mais.
**Lição do dia:** Por mais rígidas que sejam as regras, há situações em que o coração sabe o que fazer. Hoje, não multamos ninguém — ajudámos a trazer uma vida ao mundo.


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