O Segredo do Sótão

O Segredo do Sótão

Após a morte da avó, meu irmão e eu decidimos ir à casa dela no campo para arrumar as coisas e decidir o que fazer com o lugar. A casa era antiga, rangendo, com um cheiro de naftalina e maçãs assadas. Passamos a infância ali, mas agora tudo parecia estranho e um tanto… tenso.

Enquanto mexia em coisas antigas no sótão, encontrei um baú de madeira com um cadeado. Não havia chave nem qualquer indício do que poderia estar dentro. Meu irmão, como sempre, fez um gesto desdenhoso: “Deve ser só tralha, pra que você quer isso?”

Mas eu sentia uma curiosidade inexplicável para abri-lo. No dia seguinte, acabei quebrando o cadeado. Dentro, encontrei cartas. Muitas delas. Organizadas com cuidado e amarradas com uma fita. Eram de um homem cujo nome eu não reconhecia. Escritas com amor, ternura e carinho. Algumas datadas até depois da morte do meu avô. Sim, ele havia falecido antes da avó… mas não tanto antes assim.

Li quase todas as cartas. Esse homem escrevia para ela toda semana por mais de 20 anos. Ele sabia sobre nós, sobre nossa família. Porém, a avó nunca mencionou nada, nem uma palavra. Ela as guardou em segredo, sem compartilhar essa parte de sua vida com ninguém.

Decidi não contar nada ao meu irmão. Apenas levei comigo uma carta — a mais recente. Nela, ele escreveu: “Se um dia você se decidir, poderíamos fugir. Mas você escolheu eles. Não estou zangado. Apenas amo. Para sempre.”

E sabe o que mais? No verso havia uma fotografia. O homem… que eu com certeza já vi. No nosso álbum de família. Assinado como “tio Janek, amigo da família”.

Passaram-se algumas semanas. Voltei para casa, mas a carta e a foto do “tio Janek” não me deixavam em paz. No álbum de família, havia realmente algumas fotos dele — sempre ao fundo, sempre um pouco afastado. Ninguém nunca comentou nada especial sobre ele. Apenas “amigo da família”. E eu teria esquecido… se não fosse pela minha mãe.

Certa noite, durante o jantar, perguntei com cautela:

— Mãe, quem é o Janek? Ele costumava visitar a avó e o avô, não é?

Ela congelou. Pôs o garfo no prato. Olhou pela janela.

— Janek… era um bom homem. Ajudava nas tarefas. Antes de você nascer. Por que você se lembrou dele?

— Encontrei a foto na casa da avó. Ele escrevia cartas para ela com frequência?

Minha mãe resmungou e se levantou.

— Melhor não se envolver com isso. Todos tinham seus segredos. Até a avó. E o avô. — E acrescentou, ao sair: — Não pergunte sobre aqueles que já se foram. Nem todos os segredos precisam ser desvendados.

Mas eu não conseguia me conter.

Fui a um arquivo e encontrei registros sobre o tio Janek. Descobri que ele viveu toda a vida na mesma vila, nunca se casou, mas deixou em testamento uma casa… para minha avó. Não para o avô. Não para a minha mãe. Para ela.

Quando contei isso ao meu irmão, ele apenas deu de ombros:
— Parece que eles tiveram um romance. E daí? Agora não importa mais.

Mas para mim, isso importava. Porque em uma das cartas, Janek havia escrito: “Talvez um dia o neto descubra. E, quem sabe, compreenda melhor do que nós.”

Desde então, às vezes reflito — talvez o amor não seja sempre marulho. Talvez, às vezes, seja apenas um baú no sótão. E uma pessoa que escreve cartas para você durante 20 anos. Mesmo que você nunca as leia em voz alta.


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